A aura pesada aumentava gradativamente na taverna de Prata, a capital das armas do reino de Plathna. A madeira avermelhada refletindo as luzes das lamparinas em contato com o breu do lado de fora dava um ar macabro à instalação. Os soldados ébrios se deleitando com as bebidas e se envolvendo em jogos violentos e com mulheres lascivas, todos, perdiam o entusiasmo ao passo que a energia negativa se aproximava. A silhueta por trás da porta da taverna anunciou que a má presença havia chegado. Não muito alto, não muito robusto, mas com uma malignidade sobrenatural saltando de seu corpo e violentando todos os presentes. Ou quase todos.
- PORQUE A FESTA ACABOU? – após empurrar a porta com tamanha violência que quase a arrancou, entrou aos gritos o elfo de pele negra como azeviche, cabelos longos brancos e lisos, olhos vermelhos, magro e com um semblante de ódio e escárnio. Ele trajava uma armadura de batalha negra com moldes tal como o corpo de um demônio, repleta de garras e lâminas covardes, segurava o elmo com a mão esquerda enquanto gesticulava com a mão direita – VAMOS, VAMOS, eu quero festa seus inúteis, divirtam-se, quero ver vocês todas nuas e vocês aí se socando, VAMOS, ESTA NÃO É A FESTA DE VOCÊS? – segurou seu mangual de aço negro outrora preso em sua cintura, girou duas vezes sobre a cabeça e golpeou uma das mesas estraçalhando-a – MAS QUE TIPO DE IDIOTAS VOCÊS SÃO? – passando os olhos sobre todos do recinto, se irritava mais ao passo que todos ficavam ainda mais preocupados.
- Est... estamos com medo se... senhor – uma voz trêmula surgiu dentre as pessoas.
- Estão com medo de mim? Ora, eu só vim até aqui para me divertir com vocês... – esbanjou ironia enquanto falou, virando-se de costas e caminhando rumo a uma cadeira vazia.
- Na... não senhor, não é de você que estamos com medo... – a mesma voz trêmula o respondeu novamente, deixando-o surpreso – O pu... punho de Charmon está vindo, e disse que irá punir a todos os que estiverem com você!
Virou-se de frente para as pessoas com um olhar mortal de raiva causando desespero a elas. Não precisou sequer dizer uma palavra para que começassem a gritar de medo e correr desesperadamente. Golpeou um soldado pelas costas com o mangual, derrubando-o imediatamente. Arrastou-o para a cadeira, sentou-o e começou a esbofeteá-lo.
- ACORDA DESGRAÇADO! DE ONDE O MALDITO VEM? – continuou a golpear o rosto do soldado que parecia não responder bem ao método.
Levantou-se e notou o local já sem nenhuma pessoa. Colocou o elmo sinistro com dois enormes chifres e se deslocou até a lamparina mais próxima, segurou-a firmemente e pensou e atear fogo naquela taverna, deixando o pobre desgraçado morrer queimado.
- O que pensa que está fazendo Szadeck? – uma voz grave firme veio de trás do elfo negro – Largue isso imediatamente antes que eu tenha de reportar ainda mais delitos no seu atestado – prosseguiu desembainhando sua espada larga e mantendo-a firme em apenas uma das mãos.
- Tudo bem, Fenrir, foi você quem “mandou” – arremessou a lamparina contra a parede de madeira da taverna, explodindo em chamas e iniciando um incêndio na lateral do local – E agora senhor punho de Charmon, qual a próxima ordem? – perguntou com ironia enquanto se virava de frente para o possível conhecido.
Sua armadura prateada com detalhes dourados e o símbolo de Charmon imponente no peito o faziam inconfundível. Os dois caminharam lentamente na direção do outro, Szadeck girando seu mangual sobre a cabeça e Fenrir apenas sustentando a ponta de sua espada há poucos centímetros do chão. Quando estavam ao alcance, um da arma do outro, trocaram olhares de ódio e foram interrompidos por outra voz, esta arranhada e puxada para o agudo.
- Halgus deve ter se arrependido demais por ter escolhido você para recrutá-los, Szadeck!
Ambos pararam e olharam na direção da cadeira onde Szadeck havia deixado o homem desacordado e lá estava um homem pálido, careca, aparentemente velho, de olhos vermelhos, trajando um manto negro longo e segurando uma enorme foice. Ambos ainda conseguiam ver um par de asas membranosas translúcidas partindo de suas costas e um par de enormes chifres partindo de sua testa.
- Talbot, mas você não desiste? – Szadeck baixou o mangual a caminhou na direção de outra cadeira.
- O que está havendo aqui? – perguntou Fenrir olhando para o homem que portava a foice – Quem ou o que é você?
- Os métodos do meu amigo aqui não tem sido os melhores – fitou Szadeck, o homem careca e tornou a encarar Fenrir – Me chamo Talbot, sou sacerdote de Skotch, recentemente fomos convocados pelo cardeal Halgus para procurar e recuperar um artefato que foi roubado do templo de Alethos, chamado O coração de Divinária. – escorou-se no cabo da foice e se levantou – Logo lhe explicarei porque ele nos convocou e porque escolheu este daí para passar a mensagem aos demais. Por hora, basta que venha conosco – caminhou lentamente rumo à porta da taverna em chamas e ouviu apenas os passos de Szadeck – Você não vêm não? Não se preocupe, quando todos estiverem reunidos você não será minoria. Nossas diferenças serão acertadas, com certeza, mas depois de salvarmos nossas peles.
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