Alguns minutos se passaram e o rapaz sentiu-se adormecendo quando foi interrompido pela porta do quarto se abrindo. Pelo caminhar, mesmo sem olhar soube quem estava entrando em seu quarto. A porta se fechou e o garoto ouviu o visitante se sentar na cama ao lado.
- Caramba, Tom, pensei que estivesse bem, mas não imaginei que fosse vir me visitar antes de eu acordar direito! – Exclamou o rapaz ainda se espreguiçando.
- Desculpe desapontá-lo, mas seu amigo está descansando por hora – Uma voz grave e sedosa respondeu o rapaz, assustando-o. Com certeza não era a voz de Thomas.
Sentou-se na cama e se virou de frente para o dono da voz. Espantou-se novamente ao ver que era seu amigo Thomas. Estava com os cabelos um pouco úmidos e vestindo apenas a camisola cirúrgica azul clara.
- O que houve Thomas? – Questionou sem pensar ainda assustado
- Calma garoto, só quero conversar um pouco com você – Prosseguiu com a voz grave ainda mantendo as dúvidas do rapaz – Seu amigo está e estará bem. E você como está? – Levantou-se da cama e fitou o rapaz com olhar de pena.
- Por quê? – Questionou com tom grave olhando para a janela.
- Não é todo dia que se viaja ao inferno não é mesmo? – Com os olhos cheios d’água mostrou muita tristeza na voz.
- Como você sabe? Porque tem pena de mim? – Levantou-se e se virou de frente para seu amigo enquanto perguntava.
- Se sabe de tudo porque pergunta se eu estou bem? Você não deveria saber? – Tentou ser irônico, ainda de pé.
- Onisciência, onipresença, onipotência. Vocês, mortais, têm uma noção muito equivocada sobre isso tudo. – Ainda sem se virar, com a voz já controlada. – Se quiser conversar um pouco, não irei te fazer nada.
- Olha, não sei quem ou o que é você, mas quero saber o que você quer de mim, tem como você ser um pouco mais claro? – Tentou caminhar na direção de Thomas, mas foi limitado pelo soro que o prendia ao tripé do outro lado da cama.
- Meu rapaz, se acalme. – Virou-se de frente para o garoto sendo iluminado pela luz do sol que vinha da janela. O garoto ficou confuso ao ver o corpo de seu amigo refletindo a luz do sol de tal maneira. – Confie em mim. Sua alma está sendo disputada por duas lendárias disposições, Balzak e Seraph. Isso pode acabar a ferindo gravemente, e estou um pouco preocupado com isso. – Sem tirar os olhos do rapaz prosseguiu – Minha atenção deverá se voltar a outro assunto agora, ainda assim, me chame sempre que quiser, estarei com você sempre – Esticou a mão direita fechada na direção do rapaz – Pegue, é um presente para você.
- O que é? – Esperou onde estava esticando o braço e demonstrando como estava limitado.
- Algo para que se lembre de mim. Use-o para falar comigo sempre que quiser – Caminhou ate o rapaz e deixou um objeto em sua mão.
Sem dizer mais uma palavra sequer, Thomas deixou o quarto enquanto o rapaz olhou para sua mão para ver o que havia ganhado. Um crucifixo prateado de cinco centímetros preso a uma fina corrente de prata. Não pôde não se lembrar do pesadelo que o assombrava há anos. O rapaz jamais teve um crucifixo em toda sua vida, muito embora mantivesse certa preocupação com sua vida espiritual.
Sem pensar muito, colocou a corrente no pescoço e sentiu o objeto pesando mais de vinte quilos. Achou estranho, mas não estava em condições de pensar a respeito. Segurou firmemente o equipo, rangeu os dentes, apertou a mão esquerda e puxou de uma vez. Doeu menos do que esperava e em poucos segundos, o furo feito pela agulha estava fechado. Ele já havia se acostumado com isso.
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